Abaixo, uma matéria lançada na intranet da CMSP em 2009...
Um druida na Câmara Municipal
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A Câmara Municipal de São Paulo é um dos últimos lugares onde você esperaria encontrar um druida. Manja druida? Aqueles magos de longas barbas brancas dos povos celtas, tipo o Gandalf do "Senhor dos Anéis" ou o Dumbledore de "Harry Potter"? Pois é. Cláudio Quintino Crow, 40 anos, técnico administrativo de SGA.3 (Secretaria de Infraestrutura), é um deles.
Esqueça barbas longas e caldeirões borbulhantes. Para começar, nem todos os druidas que viveram na Europa Ocidental antes de Cristo eram anciãos barbudos. Inseridos em uma cultura que valorizava o feminino, vários druidas eram mulheres. E não eram exatamente magos, ou, pelo menos, não eram só isso. Além de adivinhos e curandeiros, os druidas eram também conselheiros do rei, juristas, legisladores, poetas e contadores de histórias.
E o druidismo, para Claudio, não tem nada a ver com rituais exóticos para serem praticados sob o luar depois do expediente. E é mais do que uma religião − no sentido de que não é uma crença para ser celebrada com orações e cerimônias em dias marcados. É um jeito de saber viver que ensina a ver todo lugar e momento como sagrados e a agir com honra em todas as atividades do dia a dia.
− Eu não oro, eu vivo − é como Claudio explica sua relação com o druidismo.
No começo, contudo, foram mesmo os magos barbudos da lenda e da cultura pop que despertaram o seu interesse pelos druidas. Tinha pouco mais de dez anos e se chamava apenas Claudio Quintino quando conheceu seus primeiros druidas: o mago Merlin, dos livros sobre o lendário rei Arthur, e o druida Panoramix, dos gibis de Asterix. A partir deles, o menino passou a ler tudo o que encontrava sobre druidas e celtas − povo europeu da Antiguidade que deixou suas marcas, principalmente, na Irlanda, no Reino Unido e na Gália.
Com 16 anos, Claudio começou a trabalhar na Câmara como auxiliar de serviços gerais - e gastava boa parte do salário em livros importados, já que a bibliografia em português sobre seus temas favoritos era escassa. Naqueles tempos anteriores ao Google, a vida não era nada fácil para um office-boy autodidata da zona sul de São Paulo, obrigado a comprar as obras aleatoriamente, sem qualquer referência de qualidade. Irredutível, desbravou centenas de livros de história, antropologia, arqueologia, mitologia. A essa altura, o moleque que curtia histórias de cavaleiros andantes da Távola Redonda cedia lugar a um pesquisador da cultura celta.
As leituras fascinaram Claudio com histórias de uma cultura da Antiguidade que colocava homens e mulheres em pé de igualdade e via o sagrado em todos os aspectos da natureza. Ficou convencido de que a humanidade havia perdido muito com o desaparecimento da espiritualidade celta.
E o druidismo, para Claudio, não tem nada a ver com rituais exóticos para serem praticados sob o luar depois do expediente. E é mais do que uma religião − no sentido de que não é uma crença para ser celebrada com orações e cerimônias em dias marcados. É um jeito de saber viver que ensina a ver todo lugar e momento como sagrados e a agir com honra em todas as atividades do dia a dia.
− Eu não oro, eu vivo − é como Claudio explica sua relação com o druidismo.
No começo, contudo, foram mesmo os magos barbudos da lenda e da cultura pop que despertaram o seu interesse pelos druidas. Tinha pouco mais de dez anos e se chamava apenas Claudio Quintino quando conheceu seus primeiros druidas: o mago Merlin, dos livros sobre o lendário rei Arthur, e o druida Panoramix, dos gibis de Asterix. A partir deles, o menino passou a ler tudo o que encontrava sobre druidas e celtas − povo europeu da Antiguidade que deixou suas marcas, principalmente, na Irlanda, no Reino Unido e na Gália.
Com 16 anos, Claudio começou a trabalhar na Câmara como auxiliar de serviços gerais - e gastava boa parte do salário em livros importados, já que a bibliografia em português sobre seus temas favoritos era escassa. Naqueles tempos anteriores ao Google, a vida não era nada fácil para um office-boy autodidata da zona sul de São Paulo, obrigado a comprar as obras aleatoriamente, sem qualquer referência de qualidade. Irredutível, desbravou centenas de livros de história, antropologia, arqueologia, mitologia. A essa altura, o moleque que curtia histórias de cavaleiros andantes da Távola Redonda cedia lugar a um pesquisador da cultura celta.
As leituras fascinaram Claudio com histórias de uma cultura da Antiguidade que colocava homens e mulheres em pé de igualdade e via o sagrado em todos os aspectos da natureza. Ficou convencido de que a humanidade havia perdido muito com o desaparecimento da espiritualidade celta.
− Um rio, por exemplo, era para os celtas o corpo de uma divindade. Poluir um rio seria como destruir um deus − compara.
Em 1996, o fascínio o empurrou para uma viagem pelos pontos míticos da Irlanda, onde uma tarde chuvosa marcaria sua vida. Sobre a pequena colina de Tara, considerado "o coração espiritual da Irlanda celta", Claudio sentiu os olhos mareados e experimentou a sensação de voltar para casa. Nos anos seguintes, entrou em contato com estudiosos que buscavam reconstruir a espiritualidade druida, baseado nos vestígios deixados pela civilização celta. Após uma segunda viagem a terras irlandesas, em 1999, tornou-se representante brasileiro da The Druid Network, maior organização druídica internacional.
Naquela época, Claudio adotou o nome de Crow e fez sua primeira tatuagem, a imagem do corvo que esvoaça em seu braço direito.
− O corvo é um mensageiro entre a nossa realidade e os outros mundos. É o que procuro ser, sem qualquer sombra de presunção − diz.
Em 1996, o fascínio o empurrou para uma viagem pelos pontos míticos da Irlanda, onde uma tarde chuvosa marcaria sua vida. Sobre a pequena colina de Tara, considerado "o coração espiritual da Irlanda celta", Claudio sentiu os olhos mareados e experimentou a sensação de voltar para casa. Nos anos seguintes, entrou em contato com estudiosos que buscavam reconstruir a espiritualidade druida, baseado nos vestígios deixados pela civilização celta. Após uma segunda viagem a terras irlandesas, em 1999, tornou-se representante brasileiro da The Druid Network, maior organização druídica internacional.
Naquela época, Claudio adotou o nome de Crow e fez sua primeira tatuagem, a imagem do corvo que esvoaça em seu braço direito.
− O corvo é um mensageiro entre a nossa realidade e os outros mundos. É o que procuro ser, sem qualquer sombra de presunção − diz.
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Como um corvo, Claudio busca trazer para a atualidade as mensagens do mundo druídico e da cultura celta por meio de cursos, workshops, palestras, do seu site www.claudiocrow.com.br e da música. Tocando violão e “tin whistle” (flauta doce de metal tradicionalmente irlandesa), realiza shows de música tradicional irlandesa em que alterna canções com histórias, mitos e curiosidades, tanto em apresentações solo como acompanhado de amigos.
Já publicou dois livros sobre a espiritualidade celta − "A Religião da Grande Deusa" (Gaia) e "O Livro da Mitologia Celta" (Hi-Brasil) −, mas não tem planos de escrever outros. Claudio não gosta de como o papel cristaliza em texto as suas ideias, que estão sempre em movimento. “Hoje não aproveitaria nem 50% do primeiro livro que escrevi”, conta. O veículo ideal para o corvo levar suas mensagens é mesmo a internet, que permite a Claudio atualizar os textos à medida que faz novas descobertas e revisa suas noções.
Foi em um de seus cursos que Claudio conheceu Carina, com quem foi casado por quatro anos. Eles têm uma filha de dois anos chamada Brigitte − em homenagem à deusa Brighid, que o cristianismo transformou em Santa Brígida, uma das várias heranças deixadas pela tradição celta na cultura ocidental.
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Dono de uma barba ainda muito curta e escura para ser identificada com a imagem popular dos velhos druidas, Claudio carrega outras duas tatuagens. No seu braço esquerdo, floresce uma árvore, numa referência à origem do termo druida, que significa "aquele que tem a sabedoria do carvalho". A imagem resume o ideal de perfeição que os druidas almejavam: um ser que consegue sobreviver em harmonia com o que o cerca, mesmo sem se mover nem destruir outras vidas. A terceira tatuagem é o lema do mitólogo Joseph Campbell, "Follow your bliss", que Claudio traduz como "Siga o que o torna pleno".
É essa plenitude que permite a um druida de barba e tatuagens se adaptar a uma realidade aparentemente tão diferente que é trabalhar no expediente de SGA.3, cuidando da tramitação de documentos relacionados à infraestrutura da Casa. É que, segundo a visão druida, não há oposições: todas as diferentes realidades fazem parte de uma unidade, ensina Claudio.
− Todo o universo é feito da mesma matéria e tudo está conectado − afirma. Corpo, mente e espírito devem estar em união. O corpo sem o espírito cai no materialismo. A mente sem o corpo transforma você num nerd. E o espírito sem o corpo o deixa alienado.
Para o trabalho e a vida, vale a mesma visão de integridade, plenitude e honra.
− Como eu disse, eu não oro, eu vivo. Todo lugar e todo momento é sagrado. O meu trabalho é sagrado, porque me permite comprar meus livros e educar minha filha. Por isso, eu honro o que faço trabalhando da melhor forma possível.
É essa plenitude que permite a um druida de barba e tatuagens se adaptar a uma realidade aparentemente tão diferente que é trabalhar no expediente de SGA.3, cuidando da tramitação de documentos relacionados à infraestrutura da Casa. É que, segundo a visão druida, não há oposições: todas as diferentes realidades fazem parte de uma unidade, ensina Claudio.
− Todo o universo é feito da mesma matéria e tudo está conectado − afirma. Corpo, mente e espírito devem estar em união. O corpo sem o espírito cai no materialismo. A mente sem o corpo transforma você num nerd. E o espírito sem o corpo o deixa alienado.
Para o trabalho e a vida, vale a mesma visão de integridade, plenitude e honra.
− Como eu disse, eu não oro, eu vivo. Todo lugar e todo momento é sagrado. O meu trabalho é sagrado, porque me permite comprar meus livros e educar minha filha. Por isso, eu honro o que faço trabalhando da melhor forma possível.
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