Friday 26 April 2013

Convite Palestra: INTEGRAÇÃO, INTEGRIDADE, PERFEIÇÃO: O PRINCÍPIO DA CURA NAS ESPIRITUALIDADES ANCESTRAIS

No próximo dia 27 de maio, dentro do  1º Congresso Internacional de Saúde e Estética Integrativa, apresentarei a palestra:


INTEGRAÇÃO, INTEGRIDADE, PERFEIÇÃO:
O Princípio da Cura nas Espiritualidades Ancestrais

Um evento marcante pelo seu pioneirismo, reunindo gente boa de diversas áreas ligadas à Saúde e ao bem Estar - imperdível para os profissionais e interessados da área.





  

Programação completa e maiores informações:http://www.caeci.com.br/congresso_saude_estetica.php


SINOPSE DA PALESTRA:
O resgate da visão ancestral da Cura entre culturas ditas ‘primitivas’: quebrando
paradigmas para ampliar o escopo dos modernos curadores nas mais diversas
disciplinas e terapias.

A realidade do mundo pós-iluminista exige uma percepção mais humanizada
de diversos conceitos e princípios que norteiam nosso trabalho e nossas vidas
cotidianas. Tal realidade se mostra ainda mais premente no universo das ciências
da cura, onde os modelos mecanicistas ainda em voga já se mostram incapazes
de fornecer as respostas necessárias e retardam os avanços de pesquisas que
promovam uma real compreensão do que é, de fato, ‘curar’.

A pesquisa de culturas ditas ‘primitivas’ e da relação que estas estabelecem com
o mundo da Cura possibilitam a ampliação de nossa percepção contemporânea –
um processo que passa pelo questionamento do próprio significado do verbo ‘curar’
e remete ao resgate dos saberes que nos devolvam a percepção de que cada
indivíduo é único mas integrado ao todo, indivisível mas multifacetado.

Com base em anos de estudo e prática de tradições xamânicas e da cultura celta,
o palestrante Claudio Quintino Crow conduzirá uma jornada que parte de nosso
passado ancestral, passa pela compreensão dos processos presentes e propõe a
criação de um futuro melhor.

Claudio Quintino Crow é escritor e pesquisador independente de cultura celta;
treinado em Xamanismo Celta pelo renomado pesquisador britânico John Matthews,
há anos ministra cursos voltados para os mais diversos aspectos da cultura celta,
sempre integrando seus valores e princípios a nossa realidade atual. Atualmente,
dedica especial interesse à importância da música e da poesia como veículos de
integração e cura, tanto num nível individual quanto coletivo.

Monday 22 April 2013

Sabedoria Neo-pagã - um velho texto de 2005, ainda válido?

Sabedoria Neo-pagã
Espiritualidades neo-pagãs, como o xamanismo, o druidismo e a wicca, compartilham
alguns fundamentos básicos - aquelas verdades absolutas e inquestionáveis que estão – ou
deveriam estar - por trás das crenças e práticas desses caminhos.

O primeiro desses fundamentos é a percepção da magia em tudo o que existe. Para a
maioria das pessoas, e infelizmente até mesmo dentro do universo pagão, a magia é
algo ‘sobrenatural’. Muita gente fala em ‘nascer com um dom’, ou ‘ouvir um chamado’,
ou coisas do gênero. Pois bem, o próprio uso da palavra “sobrenatural” já mostra o erro
desta definição: sobrenatural significa algo que está acima (sobre) da natureza.


Ora, as mais diferentes correntes xamânicas, o druidismo e as tradições da bruxaria reconhecem a Natureza como a fonte de toda a magia que existe. Na verdade, a Natureza É a própriamagia. Os ‘segredos’ da magia não residem em técnicas, instrumentos, palavras de poder ou livros secretos: os segredos da magia não são segredos, pois são as próprias forças da natureza com as quais o bruxo/druida/xamã aprende a se harmonizar e delas desfrutar equilibradamente. Isto porque, tanto para o wiccano, quanto para o druida e o xamã, tudo no mundo é energia, e energia é alma, é vida. Se é vida, então é sagrado. A isto chamamos de ANIMISMO.

Outro ponto bastante importante, comum a todas as tradições citadas, é a
ANCESTRALIDADE. Honrar os ancestrais é agradecer àqueles que trilharam o caminho
antes de nós. O druidismo fala de três tipos de ancestralidade, que se complementam
harmoniosamente: a ancestralidade de sangue, ou seja, a linhagem materna e paterna que
herdamos de nossos antepassados; a ancestralidade espiritual, que é a que compartilhamos
com todos aqueles que seguem o mesmo caminho espiritual que nós; e a ancestralidade
local, que é composta pelos espíritos (humanos, de outros animais e de todas as criaturas
visíveis e não visíveis) que habitam ou já habitaram o lugar onde vivemos. Reconhecer e
honrar nossas ancestralidades nos põe em contato equilibrado conosco mesmos, com nossa
essência física e espiritual, bem como com o mundo em que vivemos e do qual fazemos
parte.


Os ancestrais – sejam eles quem forem, gostemos deles ou não, conheçamos ou não
as suas histórias, – são aqueles que fizeram de nós, direta ou indiretamente, quem somos.
Devemos reconhecer sua importância em nossa existência, e buscar inspiração em suas
experiências, atos e erros.

Tanto num caso (magia) como no outro (ancestralidade) existe uma fonte comum: a
NATUREZA. Como origem de todas as formas de vida, como fonte perene de energia e
em sua imutável mutação, a Natureza é a ‘matéria-prima’ de deuses, humanos, animais,
vegetais, elementais, espíritos e poderes. Dela emana a força, seja ela multifacetada como
nas espiritualidades politeístas, seja ela unificada como nas crenças em que se acredita
numa deidade única.

A chave para uma experiência pagã verdadeira e honesta não está em livros, artigos ou
cursos (e olhe que os três fazem parte de meu trabalho!), mas sim na compreensão íntima,
resultado de um processo individual de questionamentos e reflexões sobre os tópicos acima
(bem como de muitos outros). A reflexão individual pode brotar de processos íntimos de
questionamento, como quando nos dispomos a responder a perguntas como:


Como eu vejo a magia? De que forma trabalho minha herança, minha ancestralidade? O que é a Natureza para mim? Quem são os deuses nos quais acredito?

Este processo reflexivo é, como já dito, individual. Não é meramente especulação, mas
sim um debate íntimo sobre as informações adquiridas através de leituras e práticas.
 

A isto costumo chamar de ‘prática do conhecimento’ – pois o conhecimento é o mero
armazenamento de informações. Fazer uso positivo dessas informações é outra história: é
SABEDORIA.

Claudio Quintino


© 2005 – Cláudio Quintino – Proibida a reprodução total ou parcial do texto sem a prévia autorização por
escrito do autor. Registrado na Biblioteca Nacional. Respeite a Lei de Direitos Autorais.

Monday 1 April 2013

Na verdade, todo dia é da mentira


Não há espaço para a imperfeição no moderno mundo ocidental: consciente ou inconscientemente, somos todos levados a buscar aquele ideal de ‘perfeição’ em nossos corpos, mentes e conduta – uma perfeição que, infelizmente, não existe pelo simples fatos de sermos humanos e, principalmente, porque a perfeição maniqueísta idealizada pela mente ocidental simplesmente inexiste no mundo real.


Por conta disso, vivemos vergados sob o peso de tentarmos atingir essa perfeição utópica e, pior ainda, negativamos elementos naturais intrínsecos de sermos quem somos – ‘defeitos’, por assim dizer, que não cabem na percepção de perfeição a que somos condicionados.
Um desses defeitos é a ‘mentira’. É bom deixar claro que não se trata de uma apologia à mentira – especialmente em tempos como os nossos, onde tanto se falta com a verdade e tanto dano se traz com a falsidade. Mas convém lembrar que o radical que origina a palavra ‘mentira’ é o mesmo que gera palavras como ‘mente’, ‘mental’, ‘memória’, ‘comentário’ – nenhum deles, como se vê, necessariamente negativos. A prática da mentira é por si negativa, mas sua origem não: a ‘mentira’ é o uso da mente para criar algo que não existe – há nos nossos dias uma tênue (e equivocada) separação entre ‘mentira’ e ficção, ‘mentira’ e mito, ‘mentira’ e fantasia.

Ora, a ficção e a fantasia são irrealidades (‘mentiras’) que entretêm e fazem sonhar a milhares, milhões de pessoas. Por si só, a concepção de uma não-verdade – algo que não existe - é uma das mais belas e transformadoras faculdades da mente humana. Quando usada de forma positiva, chamamo-la de ‘criatividade’, ‘imaginação’: ela alimenta nossos sonhos, impulsiona nossas descobertas, cria nosso futuro. Quando mal usada, a capacidade de imaginar algo que não existe é chamada de mentira: destrói a confiança, envenena relações, desfia o tecido social que interliga as pessoas e demais criaturas.

Mitologicamente falando, a ‘mentira’ (ou a inverdade) é uma poderosa ferramenta de transformação. Incontáveis heróis e deuses de diversas mitologias fazem uso da mentira – disfarces, dissimulações, ardis - em seu aspecto criativo para superarem obstáculos, vencerem adversários mais fortes, ludibriarem seus oponentes. Nesses casos, a mentira torna-se ‘astúcia’: o famoso Cavalo de Tróia das lendas gregas é um clássico exemplo. Deuses como o clássico Hermes-Mercúrio, o celta Lugh, o yorubá Eshu e o nórdico Loki são deidades que, ao desrespeitarem as regras divinas, promovem o progresso e a mudança – os chamados ‘tricksters”, ou pregadores de peças. Muitas criaturas literárias desempenham a mesma função – são aqueles que, ao “distorcerem a realidade”, geram uma nova verdade – e até a bíblica traição de Judas é uma forma de alterar o curso das coisas para que o poder transformador do mito se manifeste em todo o seu potencial. O “Coringa” das cartas é o pregador de peças por excelência: ao assumir a identidade de outra carta, ele ‘mente’ sua real natureza, adapta-se, transforma-se, promove a unidade da jogada.

O atual “Dia da Mentira” e as peças nele pregadas são uma versão reduzida e (em tese) bem humorada desse elemento psicológico: em nossas vidas, o pregador de peças é aquele que nos propõe o desafio que gera novas formas de pensar e agir – e, portanto, produz a evolução. Muitas vezes a figura do ‘pregador de peças’ surge para ridicularizar o herói, provocando-o com mentiras e calúnias para que revele seu real potencial.

Por vezes, o pregador de peças é punido pelos deuses – como o Prometeu grego e o já mencionado Loki, mas mesmo assim o processo por eles disparado segue seu curso de transformação da realidade.

Como já dito, a intenção deste ensaio não é enaltecer, nem mesmo suavizar, o aspecto negativo da mentira, mas sim de compreender a origem de sua natureza e, a partir disso, perceber que talvez seja melhor compreendermos que, gostando ou não, essa e outras imperfeições fazem parte de nossa própria natureza. Ao admitirmos a existência da Mentira, enaltecemos e reforçamos as virtudes da Verdade.

Mas o que é a Verdade? Se a Mentira como a conhecemos é um conceito abstrato de interpretação linear polarizada, o mesmo vale para a Verdade. Não existe verdade absoluta, pois toda verdade é relativa e deve ser compreendida dentro de parâmetros de interpretação e contexto. Viver uma vida de verdade, em Verdade, é uma das metas de quem se dispõe a trilhar um caminho sagrado. Por ser individual, a compreensão da verdade não vem do mero estudo das leis divinas ou dos mitos e lendas de uma dada cultura, mas sim da compreensão de como essas leis, mitos e lendas reverberam em cada um de nós, de que forma nos provocam e estimulam, o que nos levam a fazer, pensar e dizer.

A primeira verdade que temos de descobrir é a nossa própria natureza individual – com todas as suas virtudes e defeitos. E como reza a sabedoria celta, “A verdade é a cola que mantém coeso e unido todo o universo”. Faltar com a verdade é atentar contra a própria estabilidade do cosmo. Que sejamos mais hábeis ao lidar com a Mentira - ao nos depararmos com ela e, sobretudo, àquela que impomos a nós mesmos quando não sabemos quem de fato somos.