Friday 17 April 2015

Celtas: entrelaçado não é emaranhado

Quando o assunto são os celtas, sua cultura, história e manifestações, reina ainda uma enorme confusão, promovida em grande parte pelas primeiras teorias proto-acadêmicas sobre suas origens, mas também por conta do oportunismo de autores e pesquisadores, sobretudo no universo da ESPIRITUALIDADE CELTA.

Até por isso, o trabalho de quem hoje se dispõe a compreender e absorver a rica herança cultural e espiritual dos celtas é dobrado: é preciso a um só tempo ‘limpar o terreno’, eliminar as fantasias e distorções geradas por décadas de manipulações – algumas bastante inescrupulosas – sobre o tema, enquanto também devemos buscar referências confiáveis produzidas por autores - acadêmicos ou não - comprometidos com o tema em áreas como História, Arqueologia, Antropologia, Etnografia, Religião e outras mais – há hoje uma gama de trabalhos acadêmicos de fácil acesso vasta o bastante para que não mais se repitam as asneiras típicas de alguns autores de livros e websites.

Os interessados pela espiritualidade celta frequentemente se deparam com a frase “O Druidismo era a religião dos celtas.”

Apesar de essa definição ser correta, ela é bastante confusa.

Afinal, de quais celtas estamos falando?
Dos Proto-celtas, ou 'Beaker People', de 2300 a.e.a.?
Os da cultura Hallstatt centro-européia – a primeira manifestação da identidade celta identificada na Europa Central e datada de cerca de 1.000 a.e.a.?
Os da subseqüente fase La Tène, glorioso período de expansão que vai de 600 a.e.a. até o início da era atual?*

E de que região estamos falando?
Das tribos celtas da Gália Cisalpina, no Norte da Itália?
Ou dos da Gália Transalpina, atual França?
Os celtas insulares de Grã-Bretanha e Irlanda?
Ou os celtiberos de Portugal e Espanha?
Os irlandeses e galeses medievais, livres da influência romana e germânica?

TODOS esses momentos e regiões fazem  integram aquilo a que se convencionou chamar de História Celta. Em poucos temos comprovada a existência de druidas – isso porque os druidas eram um fenômeno cultural celta, mas não eram pan-célticos, ou seja: druidas não são encontrados em nenhuma outra cultura (apesar de existirem paralelos bastante claros), mas ao mesmo tempo não são encontrados em todas as épocas e em todas as regiões em que a cultura celta viceja.

Assim, em se tratando de espiritualidade, é um grave erro limitar a experiência religiosa de origem celta ao termo 'druidismo' - ele próprio surgido somente no século XVIII: a Alma Celta, aquela que pode ser encontrada em todas essas fases e em todas essas regiões, vai muito além desse rótulo, originando-se muito antes do que a própria cultura celta, e sobrevivendo até hoje em costumes, crenças, palavras e tradições - mas especialmente, em modos de ver o mundo, de entender a si mesmo e de encarar a vida que podem ser recuperados, em todo o seu vigor e perfeitamente alinhados com nossas necessidades e questões atuais - a partir de uma pesquisa e vivência melhor fundamentada do que, de fato, é a Espiritualidade Celta.

© 2015 - Claudio Quintino Crow
Proibida a reprodução total ou parcial da obra sem a prévia e expressa autorização por escrito do autor.
Lei Federal 9.610/98.

*As datas utilizadas nesta reflexão são as mais conservadoras, variando muito de autor para autor 

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