Monday 22 April 2013

Sabedoria Neo-pagã - um velho texto de 2005, ainda válido?

Sabedoria Neo-pagã
Espiritualidades neo-pagãs, como o xamanismo, o druidismo e a wicca, compartilham
alguns fundamentos básicos - aquelas verdades absolutas e inquestionáveis que estão – ou
deveriam estar - por trás das crenças e práticas desses caminhos.

O primeiro desses fundamentos é a percepção da magia em tudo o que existe. Para a
maioria das pessoas, e infelizmente até mesmo dentro do universo pagão, a magia é
algo ‘sobrenatural’. Muita gente fala em ‘nascer com um dom’, ou ‘ouvir um chamado’,
ou coisas do gênero. Pois bem, o próprio uso da palavra “sobrenatural” já mostra o erro
desta definição: sobrenatural significa algo que está acima (sobre) da natureza.


Ora, as mais diferentes correntes xamânicas, o druidismo e as tradições da bruxaria reconhecem a Natureza como a fonte de toda a magia que existe. Na verdade, a Natureza É a própriamagia. Os ‘segredos’ da magia não residem em técnicas, instrumentos, palavras de poder ou livros secretos: os segredos da magia não são segredos, pois são as próprias forças da natureza com as quais o bruxo/druida/xamã aprende a se harmonizar e delas desfrutar equilibradamente. Isto porque, tanto para o wiccano, quanto para o druida e o xamã, tudo no mundo é energia, e energia é alma, é vida. Se é vida, então é sagrado. A isto chamamos de ANIMISMO.

Outro ponto bastante importante, comum a todas as tradições citadas, é a
ANCESTRALIDADE. Honrar os ancestrais é agradecer àqueles que trilharam o caminho
antes de nós. O druidismo fala de três tipos de ancestralidade, que se complementam
harmoniosamente: a ancestralidade de sangue, ou seja, a linhagem materna e paterna que
herdamos de nossos antepassados; a ancestralidade espiritual, que é a que compartilhamos
com todos aqueles que seguem o mesmo caminho espiritual que nós; e a ancestralidade
local, que é composta pelos espíritos (humanos, de outros animais e de todas as criaturas
visíveis e não visíveis) que habitam ou já habitaram o lugar onde vivemos. Reconhecer e
honrar nossas ancestralidades nos põe em contato equilibrado conosco mesmos, com nossa
essência física e espiritual, bem como com o mundo em que vivemos e do qual fazemos
parte.


Os ancestrais – sejam eles quem forem, gostemos deles ou não, conheçamos ou não
as suas histórias, – são aqueles que fizeram de nós, direta ou indiretamente, quem somos.
Devemos reconhecer sua importância em nossa existência, e buscar inspiração em suas
experiências, atos e erros.

Tanto num caso (magia) como no outro (ancestralidade) existe uma fonte comum: a
NATUREZA. Como origem de todas as formas de vida, como fonte perene de energia e
em sua imutável mutação, a Natureza é a ‘matéria-prima’ de deuses, humanos, animais,
vegetais, elementais, espíritos e poderes. Dela emana a força, seja ela multifacetada como
nas espiritualidades politeístas, seja ela unificada como nas crenças em que se acredita
numa deidade única.

A chave para uma experiência pagã verdadeira e honesta não está em livros, artigos ou
cursos (e olhe que os três fazem parte de meu trabalho!), mas sim na compreensão íntima,
resultado de um processo individual de questionamentos e reflexões sobre os tópicos acima
(bem como de muitos outros). A reflexão individual pode brotar de processos íntimos de
questionamento, como quando nos dispomos a responder a perguntas como:


Como eu vejo a magia? De que forma trabalho minha herança, minha ancestralidade? O que é a Natureza para mim? Quem são os deuses nos quais acredito?

Este processo reflexivo é, como já dito, individual. Não é meramente especulação, mas
sim um debate íntimo sobre as informações adquiridas através de leituras e práticas.
 

A isto costumo chamar de ‘prática do conhecimento’ – pois o conhecimento é o mero
armazenamento de informações. Fazer uso positivo dessas informações é outra história: é
SABEDORIA.

Claudio Quintino


© 2005 – Cláudio Quintino – Proibida a reprodução total ou parcial do texto sem a prévia autorização por
escrito do autor. Registrado na Biblioteca Nacional. Respeite a Lei de Direitos Autorais.

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